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Assim como qualquer outra medicação ou tratamento médico, o uso da cannabis para fins medicinais implica no acompanhamento e definição de possíveis interações medicamentosas e efeitos colaterais.
Os canabinóides podem ser usados para diversas patologias como dor, ansiedade, síndrome de Burnout, esclerose múltipla e epilepsia, e muitos dos pacientes com essas patologias usualmente utilizam outras medicações.
Isso acontece, pois os canabinóides fazem parte de um grupo de substâncias geralmente com poucos eventos adversos graves e boa tolerância, o que faz do tratamento com cannabis medicinal, uma modalidade segura de tratamento.
Como funcionam as interações medicamentosas?

Durante o uso de qualquer medicação, acontecem diversos fenômenos no nosso organismo até o efeito desejado final.
Desde o processo de absorção das substâncias, ao processo de excreção e metabolização, somados ao efeito direto nos órgãos, interações com outros medicamentos podem interferir nessas etapas.
As interações medicamentosas correspondem a alterações no efeito e na duração de duas ou mais substâncias, quando utilizadas em conjunto. Geralmente essas alterações acontecem por mecanismos farmacocinéticos, mediante modificação de enzimas presentes no fígado.
Essas enzimas são responsáveis por degradar e metabolizar, no fígado, as medicações, e quando alteradas, podem aumentar ou diminuir a degradação, fazendo com que haja então aumento ou redução no efeito dos medicamentos.
Essas famílias de enzimas incluem o CYP450, que são responsáveis por degradar diversos medicamentos e substâncias conhecidas. Como o CBD também atua nesse complexo de enzimas, podendo então aumentar ou reduzir a concentração e tempo de ação de outros medicamentos.
Por isso é importante ao médico conhecer as medicações de uso habitual do paciente, além de ajustar (se necessário) a dosagem de outros remédios quando prescrito produtos à base de cannabis. A seguir, você pode ver as interações com medicamentos mais conhecidos.
MAREVAN (Warfarina)
O THC (substância presente em grandes concentrações na cannabis) pode inibir o citocromo P450, através de uma subunidade específica dessa enzima. Dessa forma, a eliminação de anticoagulantes cumarínicos (como a warfarina) é alterado, podendo aumentar o tempo e ação desses anticoagulantes no organismo. Dessa forma, deve-se acompanhar para ajuste da dose dos anticoagulantes
Ácido valpróico
O valproato (ácido valpróico) é uma medicação anticonvulsivante, frequentemente prescrita em pacientes com crises convulsivas. Em estudos com cannabis (EpidiolexR), o uso do valproato e cannabis levou a alterações da função hepática, sendo necessário acompanhamento e a depender da lesão hepática, suspensão dos produtos a base de cannabis
Clobazam
O Clobazam é uma medicação da família dos benzodiazepínicos, com utilização em pacientes com epilepsia. O uso concomitante ao CBD (canabidiol) pode aumentar as concentrações de clobazam na corrente sanguínea, podendo gerar sonolência excessiva e efeitos colaterais indesejados.
Abaixo, seguem diversas patologias que podem ter interações medicamentosas com produtos à base de cannabis medicinal. É importante ressaltar que somente o médico prescritor pode acompanhar e definir o potencial de interação medicamentosa, bem como dos ajustes e modificações necessárias durante o tratamento médico.
- acenocumarol (VKA)
- alfentanil
- aminofilina
- amiodarona
- amitriptilina
- anfotericina B
- argatroban
- busulfan
- carbamazepina
- clindamicina
- clomipramina
- clonidina
- clorindiona (VKA)
- ciclobenzaprina
- ciclosporina
- etexilato de dabigatrana
- desipramina
- dicumarol (VKA)
- digitoxina
- dihidroergotamina
- difenadiona (VKA)
- dofetilide
- dosulepina
- doxepina
- ergotamina
- esketamina
- etinilestradiol (contraceptivos orais)
- etossuximida
- biscoumacetato de etila (VKA)
- everolimus
- fentanil
- fluindiona (VKA)
- fosfenitoína
- imipramina
- levotiroxina
- lofepramina
- melitraceno
- meperidina
- mefenitoína
- ácido micofenólico
- nortriptilina
- paclitaxel
- fenobarbital
- fenprocumon (VKA)
- fenitoína
- pimozida
- propofol
- quinidina
- sirolimus
- tacrolimus
- temsirolimus
- teofilina
- tiopental
- tianeptina
- trimipramina
- ácido valpróico
- varfarina (VKA)
Ao longo do texto, você pode entender mais sobre as interações medicamentosas e a cannabis medicinal. Pode identificar os pontos que fazem a junção dos dois tratamentos aliados em prol da saúde do paciente.
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Referências
1) KOCIS, Paul T.; VRANA, Kent E. Delta-9-tetrahydrocannabinol and cannabidiol drug-drug interactions. Medical cannabis and cannabinoids, v. 3, n. 1, p. 61-73, 2020.
2) ALSHERBINY, Muhammad A.; LI, Chun Guang. Medicinal cannabis potential drug interactions. Medicines, v. 6, n. 1, p. 3, 2018.
3) ANDERSON, Lyndsey L. et al. Coadministered cannabidiol and clobazam: Preclinical evidence for both pharmacodynamic and pharmacokinetic interactions. Epilepsia, v. 60, n. 11, p. 2224-2234, 2019.
4) DAMKIER, Per et al. Interaction between warfarin and cannabis. Basic & clinical pharmacology & toxicology, v. 124, n. 1, p. 28-31, 2019.